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Educação Ambiental: transformar projetos pontuais em políticas públicas


Gisele Barão, Leticia Scheifer e Mariana Galvão
Para o professor Marcos Sorrentino, da Universidade de São Paulo (USP), é preciso que “o desenvolvimento não signifique uma degradação do ser humano, mas pelo contrário, signifique melhoria da qualidade de vida”. Para isso, “é importante agora, em período eleitoral, que a gente saiba eleger políticos que tenham compromisso com a educação ambiental”, afirmou. Leia a entrevista.


Marcos Sorrentino é professor do Departamento de Ciências Florestais da Universidade de São Paulo (USP) e foi diretor de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente entre 2003 e 2008. Nos dias 20 e 21 de agosto, participou do Colóquio sobre Educação Ambiental, no campus Central da UEPG, organizado pelo Núcleo de Estudos em Meio Ambiente (Nucleam).

Portal Comunitário: Quais os maiores problemas brasileiros que tornam necessárias iniciativas em educação ambiental?
Marcos: Todos os problemas de degradação do meio ambiente, óbvio. O aquecimento global, que agride o país, a poluição das águas, degradação dos solos. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. São inúmeros problemas, mas a crise ambiental é muito mais ampla do que esses problemas mais visíveis.

Então, o Brasil, como um país que está se desenvolvendo economicamente, deve olhar para isso com muita atenção, para que o desenvolvimento não signifique uma degradação do ser humano, mas pelo contrário, signifique melhoria da qualidade de vida, aprimoramento espiritual, intelectual, afetivo dos seres humanos que habitam esta parte do planeta.
Portal: E a questão do lixo? Em Ponta Grossa temos o caso da construção de um aterro privado em área de proteção ambiental...
Marcos: A questão do lixo, a questão da violência, são questões que não são mais só das capitais. São questões das cidades de pequeno e médio porte também. No caso do lixo, dos aterros de resíduos urbanos de uma forma geral, há uma importância tremenda nisso. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) precisa se desdobrar também pra além do saneamento ambiental, pra todas as áreas de resíduos.

Precisamos enfrentar o descarte de pilhas, de outros materiais que o fabricante tem que receber de volta. O fabricante que produz algo com impacto ambiental, o fabricante do agrotóxico, tem que se responsabilizar pelo destino final desse resíduo. E a população tem que se responsabilizar pra fazer a separação.

O poder público tem que se responsabilizar por fazer a coleta seletiva, de forma que sobre o mínimo possível para ir para um aterro de resíduos industriais. Aí, nós vamos precisar de menos áreas para fazer aterros, e essas áreas têm que ser devidamente gerenciadas.

Portal: O que temos no Brasil de iniciativas concretas quanto à educação ambiental?
Marcos: Aqui mesmo, em Ponta Grossa, temos o Coletivo Educador dos Campos Gerais. O que nós precisamos fazer é transformar esses projetos pontuais, aproximar o diálogo desses projetos para a construção de políticas públicas.

E aí, temos algumas experiências, do Coletivo Educador de Ponta Grossa, do Coletivo do oeste do Paraná, as salas verdes, que estão acontecendo em diversos lugares do País. O Paraná está construindo sua política estadual de educação ambiental. São passos que estão sendo dados para a construção de um enfrentamento maior que é a degradação sócio-ambiental e a degradação humana.

Mas ainda não podemos dizer que há uma educação ambiental efetiva, eficiente, capaz de reverter esse processo. Nós estamos num momento em que temos que tomar decisões fortes nessa direção. Então, é importante agora, em período eleitoral, que a gente saiba eleger políticos que tenham compromisso com a educação ambiental.

Portal: Qual o papel das secretarias e conselhos municipais de meio ambiente nesse processo?
Marcos: É fazer com que o processo educador chegue a cada cidadão e cidadã, a cada bairro e comunidade. Que chegue não no sentido de conteúdo, de informação, mas no sentido de diálogo, de ouvir quais são as questões, os problemas sócio-ambientais, os desejos de toda população. No sentido desses anseios se transformarem em políticas e resultados, em melhoria da qualidade de vida.

A eleição que vem agora deve colocar isso na pauta do dia. Nós vamos eleger políticos que tenham compromisso com a construção de Conselhos, de Secretarias, de mecanismos que operacionalizem.
Portal: Como tornar as pesquisas em educação ambiental mais acessíveis ao público em geral?
Marcos: Primeiramente, criando comunidades interpretativas e de aprendizagem, o que Paulo Freire chamava de “círculos de cultura”. Nós precisamos que, em toda sociedade brasileira, tenha agrupamentos de pessoas que discutam educação ambiental, que discutam essas pesquisas, que façam pesquisas e que mapeiem a sua realidade.

Então, a construção dessa potência de agir das pessoas, como pesquisadoras, como elaboradoras de conclusões pra melhorar sua própria vida, é essencial. E para fazer isso, para chegar até elas, o papel do poder público, o papel das organizações que trabalham com educação ambiental é muito grande.

Aí, eu acredito que a base social vai ter acesso à pesquisa. Até porque há um conjunto de instituições que é remunerado para isso, ou que tem isso na sua missão, planejando para fazer com que a pesquisa saia da elite, dos pequenos grupos sociais, e chegue a toda base da sociedade.

Portal: E qual seria o papel dos meios de comunicação?
Marcos: Os meios de comunicação precisam assumir a sua posição educadora, que é não só descentralizar a informação, mas também promover a interatividade da informação.

Dar voz aos que estão silenciados hoje, e não dar voz somente ao que o chefe de edição define como prioridade, mas trazer a manifestação da população, nas suas reflexões e nos seus problemas, para dentro do mecanismo de comunicação. Ou seja, se transformar em meio de comunicação, e não de informação apenas.

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